sábado, 29 de dezembro de 2018

DIÁRIO DE VIAGEM DE UM RECENSEADOR DO IBGE

Esse texto relata o meu dia a dia como recenceador do IBGE, durante dez dias que passei pelos rios realizando o censo agropecuário.

Desculpe-me pelos erros ortográficos ou de concordância no texto, é que eu não sou um professor de língua portuguesa (rsrsrs)...

Distância de onde eu saí, dá cidade de Afuá até o meu setor, na regional do baiano. Parece perto, mas não é!


Segunda-feira, 18 de dezembro de 2017, 11h da manhã.
Partimos do rio cajuúna a bordo do barco sempre com Deus, para o setor 019 (é assim que o IBGE chama os lugares no censo) lá pras bandas do rio baiano. Me ponho sobre a janela para olhar a cidade, avisto meu irmão na porta da minha casa e dou um tchauzinho. Também avisto os supervisores e o ACM do IBGE lá na secretaria de agricultura e pesca, que também acenam para mim.

Me programei para uma viagem de dez dias. Levei mantimentos, remédios...E muita fé de que tudo ia dar certo e eu ia voltar bem para casa. Como sempre (essa era a minha terceira viagem) paramos em um posto flutuante e abastecemos com óleo diesel suficiente para os dez dias.

Barco "sempre com Deus", que nos levou para essa viagem inesquecível.

Começamos a atravessar a baía do Vieira grande por debaixo de uma leve chuva, nada que nos preocupasse...Mas de repente o tempo fecha! O céu escurece, uma chuva muito forte nos atinge e somos obrigados a fechar todas as janelas do barco, algo muito chato para mim que gosto de ir olhando as paisagens.

Os ventos fracos são instantaneamente substituídos por ventos muito fortes, as ondas aumentam de tamanho, o barco balança cada vez mais, meu medo de vomitar dispara...o vento frio entrando pela porta e batendo no meu rosto só deixa a situação mais tensa. Logo, já não se avista mais a mata lá ao longe, só se vê céu e água...O medo consome o barqueiro (Rsrsrs)...Ele, experiente, com mais de treze anos de viagens, já não sabia mais para que direção ir, pois só se via o branco da água e o cinza do céu. Ele para o barco e pensa em voltar. "Não posso arriscar a nossa vida com esse tempo", disse ele com voz tensa.

O tempo fechou na baía do Vieira grande!

Chuva chegando e cobrindo a mata, a baía...

Neste exato momento a chuva começa a passar e a mata começa a aparecer. Em meio a uma chuva passageira ele continua a viagem rumo a margem.
A chuva passa, mas os ventos não!
As ondas só aumentam de tamanho, calculo em quase dois metros de altura, nunca vi ondas tão grandes, de repente começa a me dar um enjoo do caramba...Eu começo a pedir para forças divinas fazer parar essas ondas e esse enjoo...Não sei se foi por causa do meu pedido (Rsrsrs), mas os ventos diminuíram e consequentemente as ondas e meu enjoo também.

Tudo que é bom dura pouco!

Lá vem de novo a droga da chuva.
Se passam duas horas de muita chuva, vento forte e muito enjoo.
Não estava mais aguentando essa droga de enjoo, até que me ajeitei num cantinho do barco, me sentei pra ver se eu dormia um pouco, minha vontade era acordar só quando estivesse longe da baía...Foi quase isso que aconteceu, eu dormi sentado, acordei dolorido e já tínhamos chegado na margem da baía e as ondas diminuíram bastante e meu enjoo também. Era por volta das quatro da tarde, deitei na minha rede e dormi. Acordei já era quase seis horas da noite já num rio calmo. Mesmo após sete horas de viagem, ainda não era o destino final. Paramos em uma vila para pernoitar.

No dia seguinte, as sete horas da manhã partimos rumo ao meu setor, regional do baiano. Depois de quase duas horas de viagem e quase nove horas num total enfim chegamos em uma vila. Ao chegar no rio baiano a gripe já tinha chegado com tudo em mim, meu nariz vivia escorrendo, eu gastei quase um rolo de papel higiênico durante a viagem para limpar ele (kkk)...essa vila tinha mais de 10 casas.

Após entrar em uma casa não conseguia nem respirar direito, pois meu nariz estava entupido, nesse momento cai uma forte chuva (de novo) fico sentado no sofá da casa conversando com a moradora até a chuva passar. Eu já ia indo embora quando muito generosamente ela me ofereceu um remédio para gripe, eu aceitei e fiquei feliz com aquele gesto. Fico impressionado com a quantidade de sedes (casa de shows) nesta localidade, cada uma com um nome interessante como arena três irmãos, balada show, arena verde, etc. Por volta das 3 horas da tarde chego no rio portel e me deparo com uma vila enorme com mais de 20 casas. Começo o recenseamento três da tarde e termino 7 horas da noite, nessa vila acabo encontrando um parente meu.

Por esta vila comecei o recenseamento.

19 de dezembro, sete horas da manhã, acabei de acordar. Estou deitado na minha rede da cor do exército escrevendo isso. O amanhecer na zona rural é lindo! É uma terapia para qualquer pessoa estressada. O ventinho frio no rosto, o barulho do vento nas árvores, o canto dos pássaros, papagaios, araras, o piado dos pintinhos, o barulho dos patos, o roncar dos porcos pelo terreiro ou chiqueiro...(porco ronca?)...

20 de dezembro, chego por volta das 10:30 da manhã num rio chamado duas bocas 1, um rio estreito e enorme de comprimento, a primeira vista parece ter poucas casas...Paro em um estabelecimento agropecuário (porque é assim que o IBGE chama as residências nesse censo) e após uma conversa descubro que neste rio há cerca de 30 casas. Logo eu coloco na minha cabeça e na do barqueiro também "a gente tem que terminar de visitar todas elas hoje!" Deu 1h da tarde, eu já estava preocupado, pois a minha bateria extra havia descarregado, meu celular estava quase descarregando e eu nem havia mandado notícias para a minha família de que eu havia chegado bem no meu setor. E a bateria do meu DMC (dispositivo móvel de coleta, tipo um celular onde anotamos as respostas do entrevistado) também já estava em 58%, eu sabia que isso era pouco para visitar todas as outras 23 casas que faltava e eu já estava morto de fome (kkk). Parei pra almoçar. No meio do almoço cai uma chuva com ventos muito fortes. Temos que correr para fechar todas as janelas do barco.

Rio duas bocas 1. É enorme de comprimento.

Minha preocupação continuava, como vou carregar meu DMC e minha bateria extra se só tenho um carregador!?
Mas eis que eu descubro que na casa cujo porto o nosso barco estava atracado tem energia solar! Que maravilha! Pedi permissão para carregar minha bateria extra. Era 3h da tarde, e disse para o dono da casa"vou visitar as outras casas e depois eu volto para buscar".

Continuo a viagem pelo rio duas bocas 1, dá 5h da tarde e ainda falta umas 12 casas para visitar e em cada casa eu gasto uns 15 minutos fazendo as perguntas e o barco era meio lento e as distâncias entre uma casa e outra eram grandes. Fico mais preocupado ainda quando vejo que a bateria do meu DMC estava em 29% não sabia se ia dar.
Mas eis que eu visito a casa de um cara muito gente boa, eu reclamo para ele que ainda falta bastante casas para visitar e que achava que não ia dar tempo, pois eu queria terminar naquele dia! Muito generoso, ele se oferece para me levar de rabeta no restante das casas, que é quatro vezes mais rápido do que os barcos. Meus olhos chegaram a brilhar (Rsrsrs)...Eu lógico que aceitei. Visitamos todas as casas. Já era sete da noite quando acabamos. Se fosse no barco terminaríamos umas 9h.

Ele me levou de volta ao barco e eu pensei "égua, o cara foi muito generoso comigo, tenho que pagar ele", foi isso que eu fiz. Só tinha R$ 20 e dei pra ele. Me surpreendi quando ele disse "é muito, só quero R$ 10"... É realmente ainda existem pessoas boas e generosas nesse mundo.

Rio duas bocas 1. Um lugar muito bonito. 


Por volta das seis e meia da noite o silêncio dos rios e interrompido pelo barulho dos motores que são ligados para gerar energia. Quase 100% das casas tem um e a maioria dos moradores só liga a noite para clarear na hora do jantar e para assistir as novelas ou telejornais. Por aqui a placa solar já está ganhando espaço e a internet também.

A noite aqui é linda, principalmente quando tem poucas nuvens no céu. As estrelas parecem que vão cair sobre minha cabeça...São tantas, o reflexo delas na água deixa a noite ainda mais brilhante.

Sexta-feira, 22 de dezembro, cinco dias sem comunicação com minha família. Tenho certeza de que eles estão preocupados com essa falta de notícias minha. Nas outras viagens eu geralmente mandava uma mensagem em no máximo três dias, dizendo que estou bem. Mas eis que eu chego em uma residência perto de uma escola que tem antena rural, a dona da casa deixou eu usar ele aí eu mandei uma mensagem para minha irmã dizendo que estou bem.

Eu em algum lugar do meu setor.

Sábado, 10h30min da manhã. Entramos no rio Ipaneminha, um dos afluentes do furo grande. Assim que o barco encosta no trapiche sou recepcionado por um pequeno cachorro, pequeno porem muito bravo! Assim que ponho os pés na rampa ele avança em minha direção...E dá-lhe várias mordidas em minha "perna", na verdade ele estava mordendo a calça e não fazia nem cóssegas (Kkkk). Conforme subia a rampa, o animalzinho não desgrudava da minha perna ele estava muito revoltado com a minha presença, ficava tentando subir na minha perna e não parava de morder. Eis que aparece o dono e da um tapa nele (Kkkk...Eu gostei, mas fiquei com pena tadinho). Durante a entrevista aparece um porco de estimação de 30cm de comprimento e também resolve me morder (Kkkk)... Doí bastante, o dono pegou ele pelo rabo e o jogou no chão.

Nosso povo ribeirinho é muito hospitaleiro, antes mesmo da embarcação encostar na rampa ou trapiche percebo que eles já estão preparando uma cadeira para eu sentar. Durante a entrevista geralmente me serviam um café...na outra casa mais uma xícara de café, na próxima mais outra... Eu nunca tomei tanto café em toda minha vida (Rsrsrs) às vezes eu recusava com educação, pois meu estômago não estava mais aguentando tanto café (Kkkk).

Natal na zona rural


Quem disse que na zona rural as pessoas não entra em clima de Natal? Em várias casas vejo pisca pisca, árvore de natal, guirlandas nas portas entre outros enfeites natalinos.

Domingo 24 de dezembro, véspera de Natal. Já acordo com uma música lá longe...é da banda 007 "Dona Maria deixa eu namorar com sua filha, vai me desculpando a ousadia"...ouço tanto essa música por aqui que já até decorei a letra (Rsrsrs).

Fim da manhã da véspera de Natal, termino ou recenseamento nas casas do rio ipaneminha. Os ribeirinhos estão se preparando para o Natal. Já estão abatendo o porco, a panela já está no fogo, já estão colhendo as frutas e verduras na roça...A movimentação no rio é intensa. No bar já estão preparando o som, comprando os vinhos...No fim da tarde, os convidados chegam, os catraios vem lotados.

Viajamos agora rumo ao rio Ipanema, muito maior em largura e comprimento. O rio Ipanema fica nas margens da baía, faz fronteira com o Amapá. De onde estou dá até para enxergar a capital Macapá lá ao longe. Conforme avanço rumo a este rio vejo o assoreamento da terra nas margens, coisa normal por aqui, a terra está caindo e leva junto as árvores e até as casas. De onde estou dá até para ver a ilha Rasa e a ilha do Pará.

Noite do dia 24 de dezembro, após sermos expulsos de um trapiche por um morador bêbado que estava com um litrão de 51 dentro do casco, fomos em busca de um porto seguro para dormir. Durante a madrugada inteira, o vai e vem de pessoas bêbadas no catraio pelo rio foi constante.

Manhã de Natal no rio Ipanema. Acordo em meio a um frio do caramba, fora do normal, nunca tinha sentido um frio tão grande, parecia que meu lençol e minhas roupas estavam molhados acredito que devia estar fazendo uns 20 graus, era por volta das 6 horas da manhã. Como é Natal nos levantamos um pouco tarde 9 horas da manhã. O frio ainda continuava mesmo com sol o aparecendo...o povo estava com ressaca, eu acho que quase todas as casas continuavam fechadas, no decorrer do caminho encontro pessoas bêbadas pilotando suas rabetas, pessoas fazendo churrasco e tomando uma cervejinha nas suas casas.

Entrevistei pessoas que estavam um pouco bêbadas (Rsrsrs) muitas vezes eu chegava na hora do churrasco e interrompia a comemoração de natal deles (Rsrsrs). As casas estavam lotadas de amigos e parentes que vieram de Macapá passar o Natal com seus conterrâneos.

Como nem tudo são flores, tem situações um pouco chatas no meio do percurso, que vou enumerá-las por ordem de importância:

1- insegurança

É o que mais nos preocupou desde o início da viagem, pois haviam rios em que o barqueiro nunca havia entrado. Para dormirmos tranquilos, tínhamos que procurar um porto confiável, de gente do bem. Os moradores me contaram que a violência aumentou muito nos interiores. Dias antes de eu chegar por lá aconteceu vários assaltos e assassinato de um morador. Os piratas amedrontam os moradores. Eu fiquei bem assustado com isso .

Um dos portos em que nós pernoitamos, no rio Ipanema.


Conforme avançamos pela baía na divisa com o Amapá entramos em igarapés cada vez mais perigosos, uma moradora nos alertou que um certo morador não queria que eu visitasse a casa dele pois ele temia que eu "fosse tomar o terreno dele", algumas pessoas pensavam que eu era policial, por causa do colete do IBGE.

2- As praias

Tá aí outra coisa que me deu muita dor de cabeça, às vezes entrávamos em rios que tinha praias de lama enormes, para eu chegar até a residência tinha que tirar o tênis, enrolar a barra da calça e pular na água e ir caminhando até a rabeta cheia de água da chuva, onde eu lavava meus pés, então que eu subia na rampa e entrava nas casas.

3- Os cachorros

Às vezes eu chegava nas casas e quem me recepcionavam eram os cachorros. Às vezes vinha de quatro para cima de mim, às vezes vinha apenas um...mas era um pitbull (Rsrsrs) eu lógico que ficava no barco até aparecer o dono da casa e eu adentrar em segurança. Só que às vezes mesmo com todo o barulho dos latidos dos cachorros ninguém aparecia e eu batia palma, batia palma...
Entro numa casa e após terminar entrevista sou alertado pelo morador "cuidado com o guerreiro"...Fiquei sem entender, depois vi que era um cachorro enorme, esse nome é por causa do jogador do Flamengo (coitado do cachorro kkkk).

6- Calor

Eu sempre vestindo calça preta, tênis e por cima da camisa o colete do IBGE e mais o boné do IBGE (que são de uso obrigatório) sempre me sentia dentro de um forno tipo uma cebola com várias camadas debaixo de um sol escaldante. O alívio vinha quando chovia, pois o clima ficava menos quente, mas também a chuva atrapalhava um pouco o trabalho de campo, pois eu não tinha guarda-chuva, tinha que esperar ela passar.

26 de dezembro 7h da manhã. Após recensear todas as casas do rio Ipanema partimos rumo ao igarapé "espera". Estou deitado na minha rede escrevendo isso, "embrulhado" com meu lençol Azul, está muito frio, deve está uns 20 graus. Aqui na zona rural as temperaturas são mais baixas do que o normal de manhã cedo. Recenseamos todas os estabelecimentos agropecuários do referido Igarapé, já era por volta das 11 horas da manhã quando concluí meu setor. Nosso pensamento era voltar para pernoitar no rio baiano, mas estava longe e a maré estava contra e resolvemos então seguir em frente a favor da maré, vamos fazer a roda pela região conhecida como porcos. Pensamos em ir pela baia, mas resolvemos cortar caminho pelo "furo do Tartaruga", um rio muito calmo, sem maresia e com muitos barrancos de lama e muito assoreamento nas margens.

Assoreamento nas margens dos rios. A terra está caindo, por causa da forca da maré.


Já é mais de meio-dia, a fome aperta vou fazer o almoço, um "engasga gato" com açaí de 9 dias. Quando estou preparando o almoço vejo o branco de uma chuvarada se aproximando...e ela chega com tudo! Égua, o vento foi tão forte que "assobiava" no rio calmo. De repente, se formou ondas de um metro de altura e eu parei de cortar as cebolas e abri um pouco a janela e olhei o vendaval. O vento foi tão forte que o barco não andava para frente, eu fiquei muito impressionado nunca vi uma tempestade tão violenta se formar em tão pouco tempo, até o barqueiro com mais de 13 anos de experiência ficou assustado, era maresia para todo lado, como eu gosto de fenômenos da natureza achei aquilo lindo! Tão rápido ela veio, tão rápido ela se foi! Ela passou, não durou nem 10 minutos.

Depois de 4 horas de viagem chegamos por volta das 16:30 no igarapé Furtado, na regional da Serraria Pequena onde iríamos pernoitar. O dono da residência nos dá um litro de açaí, um dos melhores açaí que já tomei, só a papa, açaí batido na hora direto do pasto, com gosto e cheiro de açaí de verdade.

A noite antes de dormir sempre batiamos um papo, conversávamos sobre tudo família, mulheres, Deus, contávamos piada, já estávamos nos preparando para voltar para casa no dia seguinte.

No decorrer do percurso do meu setor encontrei muitas paisagens bonitas, encontrei sítios tão bonitos com pastos limpos, flores e frutas de todas as cores, espécies, parecia o paraíso. Uma coisa que chamou minha atenção foi a altura da terra (Rsrsrs) que é bastante alta por aqui.

 Lugar bonito.


Durante todo o tempo que passamos por aqui o radio era nosso grande companheiro, ele dava uma animada quando estávamos tristes, com saudades da família. As rádios de Macapá são muito interessantes, têm programas para todos os gostos. Ao acordar, a gente sempre escutava o programa acorda Amapá. Na hora do almoço a gente sempre escutava o programa alô, alô Amazônia. Às 5 horas da tarde, quando não estávamos recenseando os estabelecimentos, escutávamos o programa humorístico "os cabuçús", a noite o programa romântico "música pela janela" e assim os dias iam passando.

As casas aqui são tão bonitas quanto as da cidade.
Percebo que na zona rural há muitas igrejas católicas e evangélicas. Há igrejas muito bonitas esteticamente. Todos os rios e Igarapés por onde passei que tinha no mínimo dez famílias morando, tinha pelo menos uma escola, só estavam fechadas por que os alunos já estavam de férias. Agora com relação a postos de saúde..."nunca nem vi" (Rsrsrs).

Percebo que aqui o povo é mais amapaense do que paraense devido à proximidade com esse estado, as trocas comerciais também são intensas. Daqui para Afuá são 7 horas de viagem, daqui para Macapá é uma hora e meia... quanto diferença.

Após recensear um estabelecimento, paro para fotografar a paisagem.

Durante o percurso do meu setor levei vários tombos e escapei de quedas mais sérias. Às vezes as rampas para subir eram muito inclinadas e a sola do meu tênis era meio escorregadia. E quase sempre escorregava mas eu me segurava e não caia para a água, às vezes caía e molhava todo o meu tênis. É...a vida de recenseador do IBGE não é fácil! Às vezes eu pensava "mas o que eu tô fazendo aqui? quero ir embora" pensava em desistir, mas eu também pensava "não! Eu estudei 3 meses, 5 horas por dia para passar nesse processo seletivo, para desistir agora? e resolvi seguir em frente com a cabeça erguida, mais forte do que nunca (Rsrsrs).

27 de Dezembro, quarta-feira, 6 horas da manhã. Partimos de volta para casa. Continuo deitado com muito frio (kkkk), minutos depois o sol aparece entre as nuvens e começa a esquentar o clima. Para minha surpresa a baía do Vieira grande estava tranquila, dava até para ir deitado na rede já que ela não ficava balançando por causa das ondas. A gripe já foi embora há 3 dias, a sensação de voltar para casa é muito boa, me sinto renovado. Em pé, escorado na janela e olhando a paisagem, vou relembrando tudo que já passei nesses 10 dias. A hospitalidade do povo, as brincadeiras, as risadas as  lindas paisagens que vi, a sensação de insegurança...tudo volta em minha mente.

Na volta pra casa, teve um lindo nascer do sol.

Oh viagem boa, sem maresia.


Às vezes o Barqueiro me olha com curiosidade tentando adivinhar o que eu tanto escrevo nesse caderno...vai continuar sem saber (Kkkk).
Percebo que uma Gaivota está atravessando a baía também junto com a gente...só que ela não quer pousar no barco para descansar as asas, então OK se ela prefere ir voando o problema é dela (kkkk).

Atravessamos a baia, entramos no rio Piraioara, a chegada está cada vez mais perto, começo a arrumar as minhas coisas desmancho minha rede da corda, guardo minhas coisas na mala e na sacola,  enfim só resta esperar. Logo vejo a cidade das bicicletas, a minha Veneza Marajoara, já estava com saudade desse vai e vem das bikes pois nos últimos dez dias vi diariamente o vai e vem dos barcos, catraios, cascos...A igreja matriz e o hotel Dias chamam a atenção de quem está chegando, são as construções mais altas da cidade.

Chegando em Afuá.


Às 11:10 da manhã após 4 horas de viagem o barco atraca de volta de onde havia saído há 10 dias. Por debaixo de um chuvisco de chuva e um forte sol ao mesmo tempo, desembarco. Agora já estou em casa escrevendo o final deste diário de bordo, após contar um pouco do que passei nesses 10 dias para minha família é hora de pegar o celular e dá uma olhada nas redes sociais porque não sou de ferro (Rsrsrs) e por aqui encerro, obrigado a você que leu até o fim.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Paraense é premiado em concurso de fotografia do IBGE

Josivaldo Ribeiro (centro) ao lado do diretor do censo agropecuário do IBGE, Antônio florido (direita) e Regivaldo Aguiar, analista de geoprocessamento do IBGE Pará (esquerda).

O paraense Josivaldo Barbosa Ribeiro, 23 anos, vencedor do Prêmio Fotográfico Censo Agro 2017 na categoria Cenários Urbanos esteve no Rio de Janeiro (RJ), no dia 12 de dezembro, para receber seu prêmio de R$ 5 mil. O concurso premiou três categorias, Cenários Rurais, Atividades Agropecuárias e Cenários Urbanos.

Para o Paraense, natural de Afuá, na região do marajó, “É um orgulho representar minha cidade e meu estado nessa premiação, pude falar lá um pouco sobre as belezas da minha cidade, a fotografia premiada demonstra o porquê de a cidade ser conhecida como “a Veneza marajoara”, já que as construções são feitas sobre palafitas", relatou o vencedor. Josivaldo é fotógrafo na cidade de Afuá.


Foto premiada. Rua do estádio.


O concurso é de nível nacional e premiou as três melhores fotografias em três categorias diferentes. Os vencedores foram Arlan Filho, do Mato Grosso na categoria Cenários Rurais, Fernanda Campos, de Pernambuco na categoria Atividades Agropecuárias e Josivaldo Ribeiro, do Pará, em Cenários Urbanos.

Foram inscritas 11.525 fotos, 2.086 recenseadores participaram do concurso, as fotos obtiveram um total de 18.902 votos. A foto de Josivaldo recebeu 525 votos. Além da premiação, foi lançado o livro Nas lentes do recenseador, que traz 76 fotografias selecionadas na etapa estadual do concurso.

Vencedores: Arlan Filho, de mato-grosso (esquerda), Fernanda Campos, de Pernambuco (centro) e Josivaldo Ribeiro, do Pará (direita).


O Prêmio Fotográfico Censo Agro 2017 foi lançado pelo IBGE em dezembro do ano passado, como forma de reconhecer os recenseadores e valorizar os “olhares” desses profissionais sobre os locais que percorreram durante a coleta de dados.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

TV CANADENSE VIRÁ AO MARAJÓ GRAVAR DOCUMENTÁRIO SOBRE AFUÁ


Vista aérea de Afuá. Foto: Denny Wesley.

Não é de hoje que a cidade de Afuá, localizada no norte da ilha de Marajó, no Estado do Pará, desperta curiosidade de pessoas do mundo inteiro em especial da mídia.

Jornais, revistas e TVs de vários países já vieram a Afuá para documentar as peculiaridades da cidade. Vários programas da TV Globo como Globo Repórter, Mais Você, Fantástico e Domingão do Faustão também​ já estiveram na cidade. Revistas e jornais da Itália, França e Alemanha também já falaram sobre a veneza marajoara.

Neste ano uma equipe de tv do Japão veio gravar matéria na cidade. Em 2014 uma rede de TV da China veio documentar o fenômeno lançante (maré alta), no mês de abril.

Maré Lançante em Afuá, abril de 2017. Foto: Jota Barbosa

A cidade possui certas características que a difere das demais, como não possuir carro nem moto ( é proibido por lei ), ser construída sobre palafitas e pelo bicitaxi, criação local, que é a junção de duas bicicletas.

Bicitaxi. Foto: rumo norte expedições.

Percebe-se também que a cidade está se tornando um grande polo turístico do Estado do Pará, com número crescente de turistas a cada ano, inclusive com a vinda de navios de cruzeiros internacionais.

Navio de cruzeiro alemão em Afuá, fevereiro de 2018. Foto: Jota Barbosa

Desta vez uma equipe da TV 5 do Canadá virá a cidade gravar para o programa "The Island Diaries", que em português quer dizer "o diário da ilha". O documentário também será exibido em diversas emissoras de TVs de vários países. Segundo a pesquisadora  da emissora canadense, Joanne Robertson, o programa visa mostrar os estilos de vida únicos que são vividos nas ilhas ao redor do mundo. "É uma série documental sobre a vida na ilha. Nós exploramos como as pessoas vivem em ilhas ao redor do mundo, por exemplo olhamos para o transporte, como as pessoas obtêm seu alimento, como chegam à escola, olhamos para a relação delas com a água, cultura e identidade", afirmou.

A equipe, que também irá para a cidade de Soure, também na ilha de marajó, já passou por diversas ilhas de vários países como Grécia, Cuba, Indonésia, Portugal, Estados Unidos, entre outras.