terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

A LITERATURA MARAJOARA GANHA ASAS

Membros Fundadores da AML - Academia Marajoara de Letras. Foto: Luis Marajó 

 

Filhos marajoaras apaixonados por sua cultura, escritores dos rios e florestas foram empossados, no dia 24 de fevereiro, em Ponta de Pedras, como Membros Fundadores da AML - Academia Marajoara de Letras, esta que tem como Patrono DALCÍDIO JURANDIR. 

O evento reuniu grandes personalidade, entre os quais: Agenor Sarraf (Melgaço), Mestre Damasceno (Salvaterra), Vanderley Castro (Breves) e Rose Show (Afuá). Quem também esteve presente, conduzindo o Momento Oficial da Cerimônia, foi o Presidente da FALPA - Federação das Academias de Letras do Pará, Franciorlis Viannza.

Foi visível a emoção no rosto dos empossados em cada etapa: Juramento, entrega do pelerine, discursos, Hino da AML, confraternização etc. Todos os empossados levaram exemplares de suas obras para ser criado o acervo literário da AML - Academia Marajoara de Letras.

Etapa do juramento. Foto: Luis Marajó 
 

Rose Show, autora de quatro obras, com formação em Políticas Públicas Para as Mulheres, proferiu um emocionante discurso:

"Excelentíssimas autoridades, queridos confrades, amadas confreiras, público em geral, saudações Marajoara!

Vim descalça porque minha passarela é o meu chão...

Ao Deus poderoso, aos nossos familiares, amigos e apoiadores dos nossos trabalhos, toda nossa gratidão por esta excelsa conquista.

Parabenizo aos organizadores do evento na pessoa da escritora Jaci Garcia, pelo empenho para que tudo isso se tornasse realidade.

O universo feminino literário marajoara, hoje, aqui representado por guerreiras sonhadoras que vislumbram um Marajó transcendente em distintos tabocais, faz ecoar os gritos das nossas manas que não estão mais neste plano e que, durante muito tempo, viveram o amargor da opressão, da submissão e do silenciamento.

Entre tantas violências por estas sofridas, foram impedidas de votarem, frequentarem escolas, darem opiniões e de escreverem uma obra.

Em 24 de fevereiro de 1932, as mulheres brasileiras conquistaram o direito de votar pela primeira vez. Cá estamos, em 24 de fevereiro de 2024, conquistando o direito de ocuparmos cadeiras e assumirmos funções distintas na AML.

Hoje a Iara canta mais forte para festejar o brilho das escritoras protagonistas do Marajó.

Quantas marajoaras escreveram à prestação por conta dos afazeres domésticos?

Quantas vezes elas escreveram com a mão direita, enquanto que a esquerda sustentava uma criança sugando leite materno?Quantas vezes tiveram que ocultar escritas por falta de apoio e/ou até mesmo, por falta de coragem de se assumirem como escritoras por conta da intimidação?

Quantas vezes?

Quantas vezes?

Quantas vezes?

Em nosso caso, os desejos foram maiores que as intempéries; desta feita, transformamo-nos em vitórias- régias ( lindas, peculiares, necessárias, gigantes...) labirintando por entre rios, nos mananciais de vida, gente, cultura, meio ambiente, ancestralidade... Enfim, tantas riquezas!

Régia significa Rainha.

Somos RAINHAS, SIM! 

Aquelas meninas que amassavam o açaí, preparavam os peixes, cortavam lenha... Escutavam estórias enarradas por aqueles que as mostraram, com o brilho nos olhos, como deveríam valorizar cada ensinamento para sentirem o orgulho do pertencimento, transcreveram suas vivências e em tão expressivo momento, estão sendo coroadas.

Literatura entre rios é entrega, é a essência da identidade, é a expressão máxima de nossa inspiração...

Manas confreiras!

Eu as contemplo neste auditório e o que vejo é SUPERAÇÃO...

Tão belo quanto escrevermos um livro, é termos a certeza que estamos contribuindo com a caminhada rumo ao ápice dos registros históricos da nossa amada região, construindo um mosaico placentado por arte, cultura e educação eternas.

Somos inspiradas e inspiradoras.

Estamos bem mais que recebendo um diploma, mas, abrindo portas para outras gerações...

Já aprendemos nadar e caminhar entre palavras, agora devemos voar, voar e voar!

Um dia sonhamos em sermos escritoras, contudo, Deus quis que nós nos eternizássemos como membras pioneiras imortais da ACADEMIA MARAJOARA DE LETRAS.

CABOCLAS,

RIBEIRINHAS, 

NEGRAS,

INDÍGENAS,

MARAJOARAS...

SOMOS MEMBRAS!

MEMBRAS!

MEMBRAS!

VIVA A ARTE FEMININA LITERÁRIA DO MARAJÓ!!!"

Assim finalizou o seu discurso, sendo imensamente aplaudida por todos.

Presidente da AML, Vanderlei Castro, empossando a escritora Rose Show do município de Afuá, como Membra Fundadora da AML. Foto: Luis Marajó




 
Rose Show e Mestre Damasceno em uma conversa nos bastidores do evento. Foto: Luis Marajó